Tá faltando cristologia
http://www.genizah.com.br/2013/03/ta-faltando-cristologia.html
Digão
Quando eu fui examinado, por uma banca de pastores, para minha ordenação, um dos pastores fez uma observação sobre o meu sermão de prova: “Rodrigo, faltou um pouco mais de cristologia na sua mensagem”. Ele havia explicado que Cristo deve ser o foco central de toda mensagem, já que Ele é o foco central da Bíblia. Como ele tinha sido meu pastor, meu professor no seminário e continua sendo meu amigo, ponderei e levei em consideração suas palavras.
Acho que fiz a coisa certa. Há cerca de quinze anos atrás, recém
formado e recém casado, ainda tinha muita coisa a aprender – aprendizado esse
que seguimos pela vida afora. Mas algo ficou gravado naquele dia: a
centralidade de Cristo na mensagem, na vida e na igreja.
Depois dos recentes acontecimentos, como o papel vexatório do Marco Feliciano
frente à Comissão de Direitos Humanos e Minorias, ou o defensor da moral, da
família e dos bons costumes Silas Malafaia celebrando o 3º casamento do neandertal Jair Bolsonaro, posso dizer que está faltando cristologia.
Jesus não significa mais nada para a igreja. Aliás, significa sim:
significa um meio de espertalhões ganharem dinheiro às custas dos trouxas.
Significa que esses trouxas também são culpados, pois querem se dar bem às
custas do Crucificado. Jesus não é mais o centro de nossas vidas; hoje, Ele
ocupa um local periférico, já que nosso obeso e doentio ego refestela suas banhas
pútridas no trono de nossas vidas, sendo que Cristo é acionado apenas para dar
vazão à nossa insanidade ególatra.
A igreja evangélica brasileira não tem mais o caráter de Jesus. Somos
mesquinhos, vis, violentos, bocudos. Queremos vencer toda argumentação
contrária não na base da lógica argumentativa, mas na base da ofensa. Em vez de
conceitos e idéias serem questionados, parte-se para o simples ataque ad hominem. Preferimos estar certos a
estar em paz com o próximo. Adaptando a velha máxima, perdemos os amigos mas
não perdemos a piada (sem graça).
Jesus disse que o mundo saberia que Ele foi enviado na medida em que o
amor fosse não apenas um conceito utópico, mas uma prática corriqueira entre
nós. Portanto, o mundo desconhece, por completo, a verdade da encarnação da
Verdade, pois nos odiamos, fazendo guerra entre nós mesmos.
À semelhança dos judeus confrontados pelo Crucificado em Jo 8, temos
chamado o diabo de papai, uma vez que ele tem moldado o caráter de uma geração
de gente cheia de religião, mas hermeticamente fechada à possibilidade da
misericórdia como práxis. Já que o diabo, o pai da mentira, formata a
mentalidade de muitos, o Deus verdadeiro se tornou um deus fake, parecido com aqueles deuses pagãos, que exigem sacrifícios
para apaziguar a ira. Não oferecemos mais virgens no altar (mesmo porque elas
praticamente não existem mais), mas sacrificamos, de bom grado, nossa
integridade, nossa sanidade e nosso respeito próprio, em troca de um prato de
lentilhas vencidas.
Tenho
esperança que Deus salve pessoas nessa massa de gente religiosa que O louva com
os lábios, mas cujo coração está longe. Afinal, Deus é Deus. Mas não tenho
esperança em relação à indústria religiosa que se formou hoje no Brasil, que
faria Jerry Falwell ficar envergonhado. Sua queda já pode ser vista. E não fará
falta.Persiga o @genizahvirtual no Twitter